segunda-feira, 9 de julho de 2012

Anne Frank (*12/06/1929†31/03/1945)


O Relato de uma Adolescente

Annelisse Marie Frank nasceu em Frankfurt, Alemanha, em jun./1929, segunda filha do casal de origem judaica Otto Heinrich Frank (mai./1889-ago./1980) e Edith Frank Holländer (jan./1900-jan./1945). Sua irmã mais velha, Margot Frank nasceu em fev./1926.
Muito embora os Frank não fossem uma família devota ao judaísmo e as suas tradições, depois da ascensão do nazismo ao poder na Alemanha, em jan./1933, e a consequente perseguição aos judeus, decidiram mudar-se para a Amsterdã, Holanda, assim como muitas outras famílias em situação semelhante. Ali Otto Frank abriu uma empresa comercial que vendia extrato de frutas e matriculou suas filhas em colégios tradicionais. Anne estudou em uma escola que praticava o ensino montessoriano e demonstrou habilidades para a leitura e a escrita, características que os pais sempre incentivaram. As irmãs possuíam personalidades bem diferentes, enquanto Margot era estudiosa, introvertida e educada, Anne era extremamente extrovertida, franca e entusiasmada, sonhando se tornar jornalista.
Em 1938, como os negócios de Otto caminhavam bem, ele abriu uma segunda empresa, atacadista de insumos para a produção de salsichas e contratou alguns empregados também alemães de origem judia. Em 1939, a mãe de Edith, Rosa Holländer, foi morar com a família até sua morte em jan./1942, aos 76 anos.
Em mai./1940 os alemães invadiram os países baixos e o novo governo estabelecido passou a perseguir os judeus, proibindo-lhes a mistura com os demais cidadãos. Anne e sua irmã tiveram de se transferir para escolas judaicas e seu pai começou a sofrer ameaças dos nazistas no sentido de confiscarem suas duas empresas. A fim de evitar o pior, Otto Frank transferiu a propriedade delas para outra pessoa e passou a ter uma retirada financeira muito menor, muito embora fosse suficiente para o sustento de sua família.
Ao completar treze anos, Anne ganhou de presente do seu pai um pequeno livro para anotações que dispunha de um cadeado na parte da frente. Anne resolveu usá-lo como diário, começando a escrever imediatamente sobre o dia-a-dia de sua vida e as mudanças na Holanda após a ocupação alemã. Anne chamava-o carinhosamente de Kitty, sua confidente "amiga". No mês seguinte sua irmã, então com dezesseis anos, recebeu uma carta do governo (Escritório Central de Emigração Judaica) avisando-lhe que ela seria transferida para um dos muitos campos de concentração nazistas. A terrível notícia fez com que seu pai apressasse a decisão, já tomada, de se esconder juntamente com sua família no prédio anexo ao de uma de suas antigas empresas, onde ele havia trabalhado.
Dias depois eles se mudaram para o esconderijo secreto, deixando para trás sua antiga moradia em terrível desordem para que os nazistas entendessem que eles haviam saído de forma apressada para a Suíça, pois Otto havia "plantado" um bilhete nesse sentido junto a papelada que ficara em seu aposento. A nova moradia secreta era um ambiente de três andares com entrada a partir de um dos escritórios situado no alto do prédio da antiga empresa de Otto. O primeiro nível era composto por duas pequenas salas e um banheiro, acima situava-se outra sala pela qual, através de uma sinuosa escada, chegava-se ao sótão. Para garantir que a entrada principal ficasse sempre oculta foi providenciada uma estante coberta de livros à sua frente. Quatro pessoas que trabalhavam no escritório sabiam da presença dos "novos moradores" assim como alguns de seus parentes, mas todos de alguma forma ajudaram os Frank a sobreviver no esconderijo secreto, trazendo-lhes alimentos e notícias do mundo exterior, principalmente do desenrolar da guerra.
Ainda em jul./1942 outros moradores se juntaram aos Frank - a família holandesa van Pels, de três integrantes e, por fim, em novembro, um dentista, Fritz Pfeffer, amigo da família. Anne escrevia em seu diário tudo que ocorria dentro daquele isolamento ao qual sua família estava confinada. A princípio satisfeita por ter novas amizades, logo os desentendimentos humanos foram aflorando com o tempo, o que é bastante compreensível em se tratando de um local exíguo onde vivem oito pessoas 24 h por dia, isoladas dos acontecimentos externos. Em seu texto ela descrevia sobre o egoismo de alguns integrantes do grupo na divisão dos alimentos e seu "romance" com o tímido Peter van Pels, de dezesseis anos, a quem beijou pela primeira vez. O relacionamento com os membros de sua família era um dos principais temas de suas anotações, notadamente a melhoria do diálogo com sua irmã, de temperamento tão diferente, e as frequentes brigas com sua mãe.
Assim os meses foram passando com Anne escrevendo e lendo bastante tudo que lhe traziam de fora, já que não podia frequentar a escola. Com quinze anos, um pouco mais madura, Anne passou a escrever sobre a natureza humana, seus sentimentos, ambições e no que acreditava, assuntos os quais ela não se sentia segura para conversar com ninguém. Em jun./1944 alguém trouxe ao esconderijo a notícia da invasão aliada na Normandia o que a deixou eufórica com a possibilidade de uma reviravolta no andamento da guerra na Europa.
Dois meses depois, através de algum delator, jamais revelado, a Polícia Secreta invadiu o esconderijo e levou todos os moradores para a sede da Gestapo onde foram duramente interrogados e transferidos para uma casa de detenção provisória. Por estarem secretamente escondidos foram considerados criminosos e transferidos mais uma vez para um campo de trânsito onde foram submetidos a trabalhos braçais forçados. Os empregados que ajudaram os Franks também foram presos e considerados inimigos do regime. Uma das secretárias foi liberada e voltou ao esconderijo onde encontrou os escritos de Anne espalhados pelo chão assim como outros objetos pessoais. Ela os guardou sem saber no que aquilo iria se transformar anos depois.
Em set./1944 a família Frank, assim como os demais prisioneiros do esconderijo, foram transportados para o campo de Auschwitz, na Polônia, lá chegando após três dias de exaustiva viagem. Na confusão do desembarque de mais de mil passageiros, Otto foi separado de sua família. Os menores de quinze anos foram imediatamente levados a câmara de gás e Anne escapou como uma das mais jovens, pois havia completado quinze anos há três meses. Anne foi despida para desinfecção, teve os cabelos raspados e foi tatuada no braço com um número de identificação prisional. De dia era obrigada a trabalho escravo e à noite dormia em camas empilhadas dentro de alojamentos subumanos e superlotados. Ela, sua irmã e sua mãe estavam juntas sem saber o paradeiro do pai. Em pouco tempo as condições de saúde das três se deteriorou devido ao grande esforço nos trabalhos diários e a escassez de alimentos. Elas contrairam sarna e foram levadas a enfermaria onde as condições nem por isso eram melhores. Sua mãe, Edith, parou de comer e o pouco alimento que recebia passava para as filhas. Em out./1944 a direção do campo começou a transferir as mulheres para Bergen-Belsen, outro campo mais a oeste, contudo a mãe de Anne foi deixada para trás e morreu de inanição logo depois, com apenas 45 anos de idade.
Em Bergen-Belsen a situação foi ainda pior, pois devido a transferência de prisioneiros a população cresceu muito e com isso a proliferação de doenças se alastrou. Margot estava tão fraca que nem saia mais de seu beliche no acampamento. Em mar./1945 uma epidemia de tifo se espalhou pelo campo e vitimou 17 mil presos entre eles Margot Frank. Dias depois foi a vez de Anne Frank. Duas semanas mais tarde as tropas britânicas libertaram Bergen-Belsen. O campo foi inteiramente queimado para evitar a proliferação das doenças e os mortos foram enterrados em vala comum. Jamais se saberá o local exato onde o corpo de Anne foi enterrado.
Otto Frank, pai de Anne, sobreviveu aos maus tratos do campo na Polônia e, tão logo conseguiu, retornou a Holanda no intuito de localizar sua família. Logo descobriu a morte de sua esposa, Edith, ainda em Auschwitz, todavia manteve-se esperançoso em encontrar vivas suas duas filhas. Após várias semanas de busca ele finalmente soube, pela Cruz Vermelha, do destino cruel de Anne e Margot. Os escritos do diário de Anne lhe foram entregues juntamente com um maço de notas soltas por uma de suas ex-secretárias que os haviam guardados na esperança de um dia devolvê-los a sua autora.
Em sua auto-biografia o pai de Anne Frank descreve os momentos de emoção e dor que ele viveu ao ler pela primeira vez os escritos diários de sua filha no esconderijo secreto, revelando um lado profundo da personalidade de Anne que ele nem imaginava existir. Em abr./1946 um artigo (A Voz de uma Criança) publicado num jornal holandês, com a autorização de Otto Frank, teve repercussão nacional ao dar crédito ao diário de Anne como uma prova contundente de todo o horror nazista mais do que todas as provas do Tribunal de Nuremberg reunidas. O artigo atraiu a atenção dos editores e a primeira versão do livro foi publicada em 1947, ainda na Holanda, seguida por uma segunda versão em 1950. Neste mesmo ano foi publicado na Alemanha e França e, dois anos depois, o "Diário de Anne Frank" foi publicado na Inglaterra e nos Estados Unidos. Daí por diante o livro tornou-se best seller mundial.
Em mai./1957 um grupo de cidadãos, entre eles o pai de Anne, criou uma fundação com o objetivo de restaurar o prédio onde os Frank se esconderam dos nazistas em Amsterdã e torná-lo acessível ao público. Três anos depois o sonho destes homens tornou-se realidade e a "Casa de Anne Frank" foi resgatada recebendo visitantes de todos os países do mundo. Hoje é ponto de parada obrigatória dos turistas na capital holandesa e até um museu virtual existe para divulgar a estória da adolescente que morreu em campo de concentração, mas deixou, sem saber, um legado inigualável para a humanidade.






4 comentários:

  1. Sr.Lassance,"Polícia alemã confirma autenticidade do Diário de Anne Frank.
    A polícia judiciária federal alemã (BKA) confirmou na passada semana, após muitas solicitações, a autenticidade do Diário de Anne Frank, contestada por neonazis, com base numa peritagem feita em 1980.
    O Centro Anne Frank, em Berlim, foi uma das instituições que voltou a exigir recentemente uma tomada de posição clara da BKA sobre o referido parecer, depois de ter processado vários neonazis por terem posto em causa a autenticidade do Diário. Satisfeito com o esclarecimento da BKA, o director do Centro, Thomas Heppener, disse esperar que fiquem agora “dissipadas todas as dúvidas” sobre a autenticidade do livro.
    No seu Diário, Anne Frank, uma menina judia que morreu de tifo, em Fevereiro/Março de 1945, com apenas 15 anos, (a data exacta da sua morte não é conhecida), em Bergen-Belsen, poucas semanas antes de este campo de concentração nazi ser libertado por tropas norte-americanas, descreve como a família se escondeu numa casa em Amesterdão, na Holanda, até ser deportada para Auschwitz-Birkenau.
    O livro, que faz parte de muitos programas escolares em todo o mundo, é um símbolo da educação democrática e antifascista do pós- guerra, e serviu já para consciencializar milhões de jovens.
    Num comunicado à imprensa datado de quarta-feira, a BKA sublinha que a peritagem feita em 1980 pelo seu Instituto de Técnica Criminal “não pode ser invocada para pôr em causa a autenticidade do Diário de Anne Frank”.
    O parecer em questão foi elaborado no âmbito de um julgamento que decorreu em Hamburgo, mas segundo a BKA “não se destinava a pôr em causa a autoria do Diário, e sim a apurar se o material usado, papel e lápis, já existia durante a II Guerra Mundial, o que os especialistas, aliás, confirmaram”.No mesmo parecer, apenas se refere também que algumas correcções, sem se especificar quais, foram feitas com pasta de esferográfica só existente a partir de 1951.
    Um artigo publicado em 1980 no semanário Der Spiegel, com base na referida peritagem, e em que se afirmava que “o que emocionou o mundo não foi escrito pela mão de Anne Frank”, serviu, no entanto, de pretexto a neonazis para passarem a falar de uma falsificação.
    Na verdade, segundo David Barnoyuw, do Instituto Holandês da Documentação de Guerra, considerado o maior especialista na matéria, os escritos de Anne Frank apenas foram resumidos e compilados pelo pai e pelos leitores da editora que publicou o Diário. O próprio Barnouw publicou, em 1986, a versão integral do Diário, criticada e comentada, e garantiu repetidamente que só a paginação de uma parte do manuscrito foi mais tarde acrescentada a esferográfica.

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  2. Além disso, segundo o mesmo perito, há dois fragmentos de papel que não provêm da mão de Anne Frank, e foram mais tarde apensos ao Diário. “Se eu encontrar a Magna Carta e escrever nela alguma coisa a esferográfica, não deixa de ser a Magna Carta”, resumiu Barnouw, em declarações ao jornal Frankfurter Allgemeine.
    O Diário de Anne Frank foi encontrado já depois do fim da II Guerra Mundial por trabalhadores de uma firma no prédio de Amesterdão onde a família se escondeu dos nazis, e publicado em livro pelo pai, Otto Frank (1889-1980), único membro da família que sobreviveu ao Holocausto.
    Logo a seguir à publicação do Diário, em 1947, círculos neonazis puseram em causa a sua autenticidade, e Otto Frank moveu vários processos judiciais por calúnia e difamação contra os autores de tais afirmações.
    Há duas semanas, em meados de Julho, simpatizantes neonazis queimaram um exemplar do Diário de Anne Frank e outros livros de escritores antifascistas em Pretzien, no leste da Alemanha, imitando assim a famosa queima de livros de escritores democráticos levada a cabo pelos nazis em várias cidades alemãs, a 10 de Maio de 1933. O incidente em Pretzien, que só foi revelado dias depois, mas causou grande indignação nos meios democráticos alemães, está a ser investigado pelo Ministério Público de Magdeburgo. Na altura, o caso foi registado pela polícia local como simples “perturbação da ordem pública”.
    Victor Hugo

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    1. Sr. Victor:
      É salutar que todas estas questões controversas existam para que o assunto crie ainda mais interesse, tornando-se uma estória magnífica. É certo também que minorias sempre se aproveitaram destas dúvidas para tender as questões conforme seus interesses particulares.
      O mistério do Santo Sudário, a descoberta do Brasil de forma "casual", a veracidade da chegada do homem à lua ou a morte forjada de Hitler - esses assuntos da História, assim como outras centenas, sempre terão adeptos dos dois lados das versões. O "Diário de Anne Frank" não fugiu à regra e é bom que assim tenha acontecido.
      Saudações,
      Sylvio Lassance

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  3. O famigerado "diário de Anne Frank", enquanto documento histórico, é inegavelmente falso. Antes que alguém diga, sou formado em História e não sou neonazista, nem milito em qualquer movimento político, partidário ou revisionista.

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