quarta-feira, 6 de junho de 2012

A Saga do Cruzador Admiral Graf Spee


Em jun./1919 foi assinado o Tratado de Versalhes que impunha aos alemães, perdedores da 1ª Grande Guerra, enormes sanções econômicas e limitações em suas forças armadas. A partir daí o Exército somente poderia contar com um efetivo de 100 mil homens apenas para patrulhamento das fronteiras e manutenção da ordem interna. A força aérea ficou totalmente proibida e a Marinha somente poderia possuir navios com tonelagem, quantidade e poder de fogo limitados.
Anos mais tarde o governo alemão iniciou um programa de construção naval revolucionário, no qual os navios seriam construídos dentro daquelas restrições, entretanto com engenharia inovadora que permitia uma brusca redução de peso aliado a inclusão de poderosas armas não suportadas pelos cruzadores pesados da época. A instalação de radares e equipamentos de última geração transformaram os navios alemães, daquela classe, nos mais modernos, velozes e poderosos até então existentes. Assim nasceram os "couraçados de bolso".
Três navios gêmeos dessa nova geração foram construídos e lançados ao mar sequencialmente. Eram eles - Deutschland, Admiral Scheer e Admiral Graf Spee, comissionados em abr./1933, nov./1934 e jan./1936, respectivamente. Muito embora eles tenham entrado em serviço no começo do governo nazista, suas construções datam de bem antes, portanto o rearmamento da Marinha alemã começara antes mesmo da subida de Hitler ao poder.
O Admiral Graf Spee foi incorporado à frota da Kriegsmarine em abr./1936 após um intensivo programa de testes navais, ficando ancorado na Base Naval de Kiel. Durante três anos o cruzador participou de patrulhas ao longo da costa espanhola durante a Guerra Civil naquele país, cruzeiros marítimos no Oceano Atlântico, exercícios navais como nau-capitânia, eventos festivos e até da coroação do Rei George VI da Grã-Bretanha, como representante alemão oficial naquela cerimônia.
Em nov./1938 o Capitão-do-mar Hans Wilhelm Langsdorff (vide mais detalhes aqui) assumiu seu comando e em janeiro do ano seguinte o Graf Spee mudou-se para a Base Naval de Wilhelmshaven. Em mar./1939 participou da incorporação do porto lituano de Memel ao Reich e, dias antes da invasão da Polônia, lançou-se ao Oceano Atlântico com instruções de cruzar a linha do Equador, apoiado pelo navio-petroleiro Altmark.
No final de set./1939 o comandante Langsdorff recebeu ordens de interceptar navios mercantes ingleses que cruzavam o Atlântico Sul, entretanto deveria evitar a qualquer custo o combate com a marinha de guerra britânica. Em sua jornada de caçador o Graf Spee afundou nove navios em setenta dias num total superior a 50 mil toneladas, tornando-se o orgulho da Marinha de Guerra Alemã.
O Capitão Langsdorff navegava próximo à costa uruguaia, em 13/12/1939, quando foi avistado por três cruzadores britânicos (Ajax, Exeter e Achilles) os quais, já alertados pelas autoridades navais de seu país, escoltavam navios mercantes naquelas águas com ordens de destruir o vaso germânico. Começava, neste momento, aquilo que ficou conhecido na história da guerra naval como a "Batalha do Rio da Prata". Inferiorizado e com o risco de se ver cercado pelos navios inimigos, o Graf Spee, acreditando no seu maior poder de fogo, não teve outra alternativa senão entrar em combate. A  troca de tiros de canhão e lançamento de torpedos que se seguiu, no começo daquela manhã, foi violenta e confusa. O valente cruzador pesado Exeter foi duramente atingido retirando-se para as ilhas Falklands em busca de socorro e reparos, entretanto os cruzadores leves  AjaxAchilles, pouco mais velozes, continuaram a implacável perseguição ao enorme vaso alemão, o qual, mesmo atingido, conseguiu refugiar-se no porto de Montevidéu. O governo neutro daquele país permitiu que Langsdorff permanecesse ancorado apenas 72 horas para pequenos reparos, hospitalização dos feridos e funeral das vítimas fatais. Enquanto isso os navios britânicos que o caçavam permaneceram, já abastecidos, ao largo aguardando a saída do Graf Spee do porto para uma batalha decisiva. Langsdorff encontrava-se num beco sem saída - distante de seu país, sem apoio do governo local, com o navio avariado, quase sem munição, o moral baixo de sua tripulação e, pior de tudo, com os navios do inimigo à sua espera.
Esgotado o prazo que lhe foi dado, Langsdorff zarpou com o Admiral Graf Spee após assegurar-se que um navio de carga alemão (Tacoma) o acompanhava. A sete quilômetros de distância o desafortunado Langsdorff deu ordens para dinamitar seu navio, salvando-se com sua tripulação no cargueiro acompanhante. Após sucessivas explosões o enorme cruzador foi parcialmente consumido pelas chamas e afundou parte de seu casco no rio da Prata. Abalado com a execução de tão difícil tarefa e sentindo-se indesejado na capital uruguaia, o comandante e seus homens procuraram refúgio no país vizinho, em Buenos Aires, cujo governo era simpático ao nazismo. Três dias depois, 20/12, em profunda depressão, Langsdorff suicidou-se no quarto do hotel que ocupava envolvido na bandeira da Marinha Imperial Alemã, sob a qual lutara na 1ª Grande Guerra.
O Alto Comando Naval em Berlim considerou covarde a atitude do comandante do Graf Spee, pois seria mais honroso ele tombar junto com sua tripulação numa batalha naval contra os navios britânicos do que destruir seu próprio navio, fugindo do confronto, para matar-se em seguida. Tanto é que ele não foi condecorado ou promovido postumamente e seus restos mortais continuam até hoje enterrados no cemitério alemão da capital argentina.
Alguns historiadores acreditam que Langsdorff não era entusiasmado pelo nazismo e, ao contrário de outros comandantes, procurava desembarcar os tripulantes de suas presas antes de colocá-las à pique. Dizem, inclusive, que ele recusava-se a fazer a saudação nazista.
Décadas mais tarde o governo uruguaio resgatou algumas peças da belonave alemã e as expuseram no porto de Montevidéu como lembrança memorável daqueles acontecimentos tão trágicos.
Resultado da batalha:
Exeter - 61 mortos, 23 feridos, danos severos (obrigado a retirar-se)
Ajax - 7 mortos e 5 feridos, danos médios
Achilles - 4 mortos, danos superficiais
Graf Spee - 36 mortos, 60 feridos, danos médios
Dados técnicos do Admiral Graf Spee:
tonelagem bruta: 16.320
comprimento: 181 metros
largura máxima: 22 metros
velocidade média: 27 nós
alcance médio: 8.900 milhas náuticas à 20 nós
armamento principal: 6 canhões de 11 pol. e 8 canhões de 6 pol.
armamento antiaéreo: 6 canhões de 4 pol., 8 canhões de 1,5 pol. e 10 metralhadoras de 0,8 pol.
torpedos: 8 de 21 polegadas (2 lançadores de 4 bocas)
motor: 8 (à diesel)
hélice: 2
radar: 2
âncora: 3
bote salva-vidas: 10
aviões: 2 Ar-196 (hidroavião lançado por catapulta)
tripulação: 43 oficiais e 950 homens (nº aproximado)




2 comentários:

  1. O Spee utilizou soldas em lugar de rebites, o que diminuiu muito seu peso.Quanto a encouraçado ter radares, em 1939, desconheço.
    Até o de eu sei a grande vantagem dos ingleses frente ao inimigo era ter radares e os alemães não - pelo menos até 1943.

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    1. Agradeço imensamente sua participação e solicito acessar o link a seguir sobre radares navais:
      https://en.wikipedia.org/wiki/Seetakt

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