terça-feira, 24 de abril de 2012

Os Grandes Dirigíveis

A história dos dirigíveis na Alemanha retroage ao ano de 1887 quando o Conde Ferdinand von Zeppelin (1837-1917) aposentou-se do Exército e passou a dedicar-se integralmente a sua grande paixão - o voo motorizado de balão. Sete anos depois requereu e conseguiu a patente de um dirigível. Em jul./1900 Zeppelin alçou vôo no seu primeiro dirigível (LZ-1), um longo "charuto" de 137 metros equipado com dois motores de 32 cavalos. O teste não acabou bem, contudo isso não desanimou o persistente conde. Novos testes foram feitos ainda naquele ano sem alcançar o êxito desejado. Em 1906, após a descoberta do avião por Santos Dumont, Zeppelin prosseguiu com suas experiências, buscando um aerostato rígido que pudesse ser utilizado comercialmente no transporte de passageiros. Dois anos depois o dirigível LZ-4 fez um teste de 24 horas levando 15 mil metros cúbicos de hidrogênio. O vôo acabou em desastre, entretanto sem vítimas.
Contando com novos financiamentos a empresa do conde lançou outras versões de seus dirigíveis, mas somente em fins de 1909, com o LZ-10, conseguiu inaugurar a primeira linha aérea de passageiros do mundo, entre as cidades da Alemanha. Foram construídos aeroportos nos principais centros do país e a companhia aérea (Deutsch Luftschiffarts-Aktien-Gesellschaftt, ou DELAG) criada passou a estabelecer e cumprir horários tão rígidos quanto os dos transportes ferroviários. Foi uma revolução. A empresa transportou mais de 37 mil passageiros nas suas primeiras mil horas de vôo, percorrendo 150 mil quilômetros, sem nenhum acidente.
Em ago./1914 quando a 1ª Grande Guerra estourou, os dirigíveis passaram a ser o grande trunfo das forças alemãs. A fábrica do velho Conde Zeppelin passou a produzir dezenas de dirigíveis com crescente incorporação de novas tecnologias. As aeronaves, a princípio utilizadas como meio de observação, passaram a transportar bombas a serem lançadas sem qualquer precisão sobre alvos no solo. Devido à sua grande altitude os dirigíveis não eram encontrados pelos aviões de caça enviados para sua interceptação assim como a artilharia antiaérea. Com o passar dos anos os aviões ganharam maior tecnologia de altitude e conseguiram destruir os dirigíveis, que, por sua vez, incorporaram defesa contra seus perseguidores. De qualquer forma os raids contra Londres diminuíram consideravelmente. Em nov./1918 a guerra terminou e com ela o fim dos dirigíveis alemães que foram entregues aos inimigos vencedores.
A fábrica de dirigíveis Zeppelin, agora sob a direção de Hugo Eckner (que sucedeu o conde após sua morte em mar./1917) continuou fabricando as aeronaves sob encomenda dos EUA. O primeiro dirigível a ser entregue foi o LZ-126 batizado naquele país de Los Angeles.
Com injeção de novos recursos governamentais a fábrica pode construir a maior aeronave de transporte de passageiros até então, com 217 metros de comprimento e seis motores, levando vinte passageiros e quarenta e cinco tripulantes. Em jul./1928 a Condessa Zeppelin lançava o LZ-127 em homenagem ao seu pai, Graf Zeppelin. O moderno dirigível impressionou o mundo. No ano seguinte deu a volta em torno da Terra em apenas 21 dias. Em 1930 transportou uma expedição de cientistas ao Polo Ártico com o objetivo de colher informações meteorológicas e geográficas daquela região tão distante.
Na sequência inaugurou-se uma linha regular para a América do Sul com escala no Rio de Janeiro, fazendo o percurso de ida e volta em 10 dias. Durante os anos de serviço, o Graf Zeppelin fez 650 vôos, dos quais 144 sobrevoaram o Atlântico. Transportou mais de 18 mil passageiros e cumpriu mais de 1,5 milhão de quilômetros. Tudo isso sem um acidente.
Em jan./1933 os nazistas subiram ao poder na Alemanha e logo perceberam o grande meio de comunicação que os dirigíveis dispunham para ser utilizado pela propaganda oficial. Uma nova empresa nasceu fruto da fábrica de Eckner em parceria com o governo alemão e a companhia aérea estatal (Lufthansa). Um novo e arrojado projetou foi iniciado, o LZ-129, com 245 metros de comprimento, capacidade de 200 mil metros cúbicos de hidrogênio e autonomia para 15 mil quilômetros à velocidade de 130 km/h. Poderia transportar um peso bruto de 236 toneladas, portanto era muito superior ao seu antecessor Graf Zeppelin.
Não bastasse a grandiosidade destas medidas, ainda possuía modernas instalações para os passageiros e tripulantes. Do convés panorâmico se podia observar, pelas janelas, as lindas paisagens que se descortinavam sob os pés de quem olhava. Além disso possuía um enorme salão de jantar com excelente cardápio, bar, salão de jogos, sala para fumantes e posto de correio. A cabine de comando, atrelada a parte baixa da fuselagem, era dotada de equipamentos modernos para uma navegação segura além de uma sala de mapas. Desta forma nasceu o gigantesco Hindenburg.
Em 1935 Hitler exigiu que o dirigível ostentasse em sua cauda a suástica nazista. No dia 31/03/1936 o novo dirigível fez sua viagem inaugural para o Rio de Janeiro, comemorando o terceiro ano da subida do Nacional-socialismo ao poder na Alemanha. Durante aquele ano o Hindenburg realizou dez viagens de ida e volta aos EUA e ainda participou das festividades por ocasião das Olimpíadas de Berlim.
Em maio do ano seguinte o dirigível fazia seu primeiro vôo do ano para os Estados Unidos. O trajeto fora alterado por conta das condições meteorológicas e a grande aeronave chegou a base naval de Lakehurst, estado de Nova Jersey, com mais de oito horas de atraso. Ainda chovia fino quando o dirigível fazia a manobra de aproximação. De repente uma grande explosão na parte traseira do Hindenburg sacudiu a aeronave e a fez cair como uma bola de fogo. O gás misturado ao oxigênio percorreu o seu interior como um maçarico fazendo com que toda a estrutura desabasse em apenas 34 segundos. Noventa e sete pessoas estavam à bordo entre passageiros e tripulantes. Trinta e cinco morreram, entre eles o comandante (Capitão Lehmann), além de um infeliz espectador que a tudo observava do solo, atingido pelos destroços.
Após o terrível sinistro muitas investigações foram efetuadas na tentativa de achar uma razão consistente para o acontecido, chegou-se, inclusive, a cogitar sabotagem e até um suspeito foi encontrado. Qualquer que tenha sido o motivo, a era dos grandes dirigíveis se encerrou definitivamente. A propaganda nazista fora literalmente queimada e o sonho do conde Zeppelin foi sepultado no ano do centenário do seu nascimento.





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